Afuá, a Copenhagen brasileira das bicicletas…
Em Afuá, no estado do Pará, ninguém tem carro e ninguém pisa no chão. Seus moradores vivem em palafitas e caminham sobre pontes de madeira que ligam as casas. O solo, permanentemente alagado pelo rio que banha a cidade, fica cerca de 1 metro abaixo de tudo. Por isso, a cidade paraense apelidou-se Veneza Marajoara. E por isso, também, a ausência total de carros – pelo menos de carros convencionais.
A cidade de Afuá reinventou o conceito do automóvel. “Carros” com 4 rodas, volante, capacidade para 4 passageiros, mas sem motor, circulam pelas estreitas ruas desse município com 35 mil habitantes onde veículos motorizados são proibidos por lei.
Bicicletas e triciclos são os meios de transporte mais comuns. Já os mais sofisticados são os bicitáxis, invenção local surgida da junção de duas bicicletas, unidas por estrutura de aço que leva bancos, capô, painéis e sistema para CD players e aparelhos de DVD que funcionam com baterias automotivas.
Os moradores chamam os bicitáxis de carros. A primeira versão foi lançada há 11 anos por Raimundo do Socorro Souza Gonçalves, o Sarito, que queria uma alternativa maior e mais confortável à bicicleta para passear com a família.
O veículo, com 3 rodas e capacidade para 4 passageiros, chamou a atenção e muitos moradores pediam para dar uma volta. Sarito passou a cobrar pelos passeios e batizou o invento de Bicitáxi, denominação registrada em cartório.
Nas noites de sexta e sábado, a maioria dos bicitáxis sai das garagens. Jovens se reúnem na praça, casais namoram pedalando e senhores vão visitar os amigos. Durante a semana, os carrinhos levam o afuaense às compras e ao trabalho. “Para chegar ao meu emprego, levo quase 15 minutos a pé. De carro, demoro menos de 10”, diz Ciça Cardoso, de 29 anos, que mandou instalar o sistema de som e a capota. O comerciante Maurélio Pacheco de Oliveira, de 33 anos, é outro apaixonado pelas quatro rodas. “Já que não podemos ter um carro de verdade, o jeito é caprichar no bicitáxi.” O dele tem capota, bancos estofados, luz de freio, subwoofer, porta-CDs e volante Cougar com buzina. “É como na cidade. Todo mundo quer ter o melhor.”
Ter um bicitáxi é sonho de consumo da maioria dos afuaenses. Custa de R$ 1,2 mil, o modelo mais popular, a R$ 6 mil, versão com opcionais como aparelho de DVD e banco reclinável. A moda é personalizar o bicitáxi e colocar carroceria com desenho exclusivo, luzes de néon e potentes caixas de som, a exemplo do que ocorre com o chamado “tuning”, ou personalização do carro.
O modelo mais luxuoso de Afuá, com linhas de um jipe esportivo, pertence a Elisomar Gemaque de Castro, que levou dois anos para juntar todos os itens instalados no veículo. O volante e o câmbio são de Fusca, o painel com luzes de pisca e faróis de milha é de Tempra, pneus e retrovisores são de motos. Os bancos em couro reclináveis, de um Mille, foram reduzidos de tamanho.
O veículo é equipado com DVD, onde Castro vê as bandas de sua preferência. Tem caixas de som, alto-falantes, Santo Antônio e estribos para compor o visual de um jipe 4×4. “Aqui ele é um Mercedes-Benz da cidade grande.” Castro copiou o design de um jipe de brinquedo do sobrinho. A parte frontal foi feita em chapas fundidas e pintura automotiva. O freio é de mão e o câmbio tem três marchas.
A criatividade é a alma do negócio. As inúmeras adaptações incluem “bicicletas-ambulância”, “bicicletas-açougue”, bicicletas que fazem propaganda em alto-falantes e até uma bicicleta com churrasqueira pode ser encontrada por lá. Os afuaenses se divertem e se locomovem em suas bicitáxis e até fazem planos para exportar o seu excêntrico produto de Afuá para todo o Brasil. Pelo menos Inajá, o município vizinho, já comprou duas unidades.
Fonte das imagens: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1313742-7823-GLOBO+AMAZONIA+BICICLETAS+DE+AFUA,00.html