Histórias de bicicletas

Bicicletas, Che Guevara e revoluções…

Se eu puder fazer alguma ligação sobre bicicleta motorizada com alguma personalidade conhecida, sem sombra de duvidas, será sobre Ernesto Che Guevara. Dividi o post em quatro partes, para uma leitura mais fácil. Aproveitem.

“Derrota após derrota até a vitória final.”

O Início

Che Guevara era inquieto e acreditava que poderia fazer tudo por conta própria. Durante o verão de 1951, Guevara comprou um pequeno motor, o instalou em sua bicicleta e saiu pela Argentina, percorrendo diversas províncias do norte. Essa expedição, que durou em torno de um mês, em sua bicicleta motorizada, foi uma aventura que o conduziu país a fora na orbita de seu próprio mundo. Viajando assim, Guevara começou a confiar nas estradas e nos que estão ao seu redor, sentindo-se preparado para, então, cair mundo adentro.

“Deixe o mundo mudar você e você poderá mudar o mundo.”

che guevara de bicicleta


Che: O Mito

Ernesto (Che) Guevara de La Serna (1928 – 1967) – O apelido “Che” é dado graças ao hábito de Guevara de sempre pontuar seus discursos com a interjeição che, uma expressão argentina comum para dizer  amigo.

Che Guevara foi assassinado nas selvas da Bolívia em Outubro de 1967. “O momento decisivo na vida de um homem é quando ele decide confrontar a morte. Se ele a enfrentar, ele será um herói, tendo sucesso ou fracassando. Ele pode ser um político ruim ou bom, mas se ele não confrontar a morte, ele nunca será nada mais que um político”. Desde então, Che é um ícone para todas as gerações, não só na América latina, como em todo o mundo.

Che, o “guru moral”, proclamava que um novo homem, sem ego e com um amor feroz pelo próximo tinha de ser criado pelas ruínas dos antigos. Che, o romântico, que mesmo sofrendo de asma, lutou bravamente contra a opressão e a tirania.

rosto che guevara

Seu enterro, no anonimato, tendo suas mãos amputadas, nos deixa a impressão de que seus assassinos o temiam morto o tanto quanto o temiam vivo. “Ele ira ressuscitar”, os jovens gritavam no final da década de 60. Vozes ecoavam na América Latina “!No lo vamos a olvidar!” – Nós não deixaremos que ele seja esquecido.

“Podem morrer as pessoas, mas nunca suas ideias.”

Talvez, nesses tempos de incessante troca de identidade e de alianças, a fantasia de um aventureiro que mudou países e cruzou fronteiras, quebrando limites sem sequer uma vez trair seus princípios básicos de lealdade, providenciou aos jovens de nossa era uma combinação otimista, cravando neles uma idéia forte de moral, simultaneamente apelando para nosso impulso nômade.

Che, com sua aparência hippie, não era a figura perfeita da pós-modernidade, do anti conformismo, com seu desdenho pelo conforto material e desejos fúteis de nosso dia-a-dia?

“Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética.”

Quando ganhara o título de cidadão honorário cubano, Che foi visitado por muitos intelectuais, como de Beauvior e Sartre, que dizia ser Che o ser humano mais completo de nossa época. Christopher Hitchens, jornalista, escritor e crítico literário britânico e estadunidense salientou no New York Review of Books : “ Ele foi o primeiro homem que eu conheci e que eu não o achei somente bonito, ele era lindo. Com sua barba crespa avermelhada, ele parecia a mistura de um fauno com um desenho infantil de Jesus. Ele falava com tanta sobriedade que em alguns instantes mascarava sua imensa visão apocalíptica.”

Che, um guerrilheiro que não suportava a desigualdade, o comando exacerbado dos que estão no poder contra os desfavorecidos. Um líder nato, que passara a vida adulta inteira lutando por um sistema político mais justo, igualitário. Ernesto Guevara concluiu que a única maneira de acabar com todas as desigualdades sociais era promovendo mudanças na política administrativa mundial.

“Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.”

Formação:

Nascido em 14 de junho de 1928 na cidade de Rosário, Guevara foi o primeiro dos cincos filhos do casal Ernesto Lynch e Celia de la Serna y Llosa. Sua mãe foi a principal responsável por sua formação porque, mesmo sendo católica, mantinha em casa um ambiente de esquerda e sempre estava cercada por mulheres politizadas.

Desde pequeno, Ernestito – como era chamado – sofria ataques de asma e por essa razão, aos 12 anos, se mudou com a família para as serras de Córdoba. Estudou grande parte do ensino fundamental em casa com sua mãe. Na biblioteca de sua casa – que reunia cerca de 3000 livros – havia obras de Marx, Engels e Lenin, com os quais se familiarizou em sua adolescência.

Em 1947, Ernesto entra na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, motivado em primeiro lugar por sua própria doença, desenvolvendo logo um especial interesse pela lepra.

Em 1952, realiza uma longa jornada pela América do Sul com o melhor amigo, Alberto Granado, percorrendo 10.000 km em uma moto Norton 500, apelidada de ‘La Poderosa’. Observam, se interessam por tudo, analisam a realidade com olho crítico e pensamento profundo. Os oito meses dessa viagem marcam a ruptura de Guevara com os laços nacionalistas e dela se origina um diário. Aliás, escrever diários torna-se um hábito para o argentino, cultivado até a sua morte.

Suas Revoluções:

Viajando em sua motocicleta, La Ponderosa II, Che chegou à Guatemala, em dezembro de 1953. Lá, ele presencia a luta do recém-eleito presidente Jacob Arbenz Guzmán, liderando um governo de cunho popular, na tentativa de realizar reformas de base, eliminar o latifúndio, diminuir as desigualdades sociais e um dos principais objetivos, garantir a mulher no mercado de trabalho.

O governo americano se opunha a Arbenz e, através da CIA, coordenou várias ações, incluindo o apoio a grupos paramilitares, contra o governo eleito da Guatemala, por não se alinhar à sua política para a América Latina.

As experiências na Guatemala são importantes na construção de sua consciência política. Lá Che Guevara auto define-se um revolucionário e posiciona-se contra o imperialismo americano.

Nesse meio tempo, Che conhece Hilda Gadea, com quem se casa e de cuja união nasce sua primeira filha, Hildita.

Em 1954, no México através de Ñico López, um amigo das lutas na Guatemala, ele conhece Raúl Castro que logo o apresentaria a seu irmão mais velho, Fidel Castro. Esse organiza e lidera o movimento guerrilheiro 26 de Julho, ou M26, em referência ao assalto ao Quartel Moncada, onde em 26 de julho de 1953, Fidel Castro liderou uma ação militar na qual tentava tomar a principal prisão de presos políticos em Santiago. Guevara faz parte dos 72 homens que partem para Cuba em 1956 com Fidel Castro e dos quais só 12 sobreviveriam. É durante esse ataque que Che, após ser duramente espancado pelos rebeldes, larga a maleta médica por uma caixa de munição de um companheiro abatido, um momento que tempos depois ele iria definir como o marco divisor na sua transição de doutor a revolucionário.

“Sonha e serás livre de espírito… luta e serás livre na vida.”

Em seguida eles se instalam nas montanhas da Sierra Maestra de onde iniciam a luta contra o presidente cubano Fulgencio Batista, que era apoiado pelos Estados Unidos.

Os rebeldes lentamente se fortalecem, aumentando seu armamento e angariando apoio e o recrutamento de muitos camponeses, intelectuais e trabalhadores urbanos. Guevara toma a responsabilidade de médico revolucionário, mas, em pouco tempo, foi se tornando naturalmente líder e seguido pelos rebeldes.

Após a vitória dos revolucionários em 1959, Batista exila-se em São Domingos e instaura-se um novo regime em Cuba, de orientação socialista. Mas teria sido a hostilidade dos Estados Unidos que levou ao seu alinhamento com a URSS. (“Eu tinha a maior vontade de entender-me com os Estados Unidos. Até fui lá, falei, expliquei nossos objetivos. (…) Mas os bombardeios, por aviões americanos, de nossas fazendas açucareiras, das nossas cidades; as ameaças de invasão por tropas mercenárias e a ameaça de sanções econômicas constituem agressões à nossa soberania nacional, ao nosso povo”.) (Fidel Castro, a Louis Wiznitzer, enviado especial do Globo a Havana,

“Os grandes só parecem grandes porque estamos ajoelhados”


Guevara, então braço direito de Fidel, torna-se um dos principais dirigentes do novo estado cubano: Embaixador, Presidente do Banco Nacional, Ministro da Indústria.

Ele parte primeiramente para o Congo, na África, com um grupo de 100 cubanos “internacionalistas”, tendo chegado em abril de 1965. Comandante supremo da operação, atuou com o codinome Tatu (do suaíle), e encontrou-se com Kabila. Por seu total desconhecimento da região, dos seus costumes, das suas crenças religiosas, das relações inter-tribais e da psicologia de seus habitantes, o “delírio africano” de Che resultou numa total decepção. Em seguida parte para a Bolívia onde tenta estabelecer uma base guerrilheira para lutar pela unificação dos países da América Latina e de onde pretendia invadir a Argentina. Enfrenta dificuldades com o terreno desconhecido, não recebe o apoio do partido comunista boliviano e não consegue conquistar a confiança dos poucos camponeses que moravam na região que escolheu para suas operações, quase desabitada. Nem Che nem nenhum de seus companheiros falavam a língua indígena local. É cercado e capturado em 8 de outubro de 1967. Suas últimas frases foram:

“Sei que você veio para me matar. Atire, covarde, você só vai matar um homem.”

Após mais de 20 anos de sua morte e do desaparecimento de seu corpo, em 17 de outubro de 1997, Che foi finalmente enterrado com pompas na cidade cubana de Santa Clara, onde liderou uma batalha decisiva para a derrubada de Batista, com a presença da família e de Fidel.

A Foto:

O famoso retrato de Che Guevara, intitulado Guerrillero heroico (Guerrilheiro heróico), foi tirado por Alberto Korda em 5 de março de 1960 em Havana, Cuba durante um memorial dedicado às vítimas da explosão de La Coubre. A fotografia só foi publicada internacionalmente sete anos depois de ter sido tirada. De acordo com Korda, Guevara demonstrava “imobilidade absoluta”, “raiva” e “dor” no momento em que a fotografia foi tirada. Anos mais tarde, Korda declarou que seu retrato capturou todo “caráter, firmeza, estoicismo e determinação” que Guevara possuía. Guevara tinha 31 anos quando a fotografia foi tirada.

De acordo com o Instituto-Faculdade de Arte de Maryland (Maryland Institute College of Art), o retrato de Guevara é “a mais famosa fotografia do mundo e um símbolo do século XX”. O Victoria and Albert Museum declarou ser “a imagem mais reproduzida da história da fotografia”. Jonathan Green, diretor do Museu de Fotografia da Universidade da Califórnia em Riverside, afirmou que “a imagem de Korda se transformou num idioma ao redor do mundo. Se transformou num símbolo alfa-numérico, num hieróglifo, um símbolo instantâneo. Ela reaparece misteriosamente sempre que há um conflito. Não há nada na história que funcione desse jeito”.

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