Mais bicicletas para humanizar as vias brasileiras
No entanto, de acordo com especialistas em mobilidade urbana, a participação das bicicletas entre os diferentes meios de transporte no Brasil, de 4%, em média, ainda é bastante pequena, se comparada aos 40% que se observam em cidades europeias como Amsterdã e Copenhague. Com o objetivo de estimular o uso das bicicletas como transporte complementar nas cidades, o Ministério das Cidades está implementando, desde 2004, o Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta (Programa Bicicleta Brasil), que tem como objetivo estimular os Estados e municípios a promoverem o uso da bicicleta como meio de transporte, de forma integrada a outros meios.
“As bicicletas têm uma excelente aplicação para o transporte em distâncias inferiores a 5 quilômetros”, diz Cláudio Oliveira da Silva, coordenador do Programa Bicicleta Brasil. Adequa-se perfeitamente, portanto, como um dos instrumentos para debelar a crise de mobilidade que afeta algumas das grandes cidades brasileiras.
Segundo Silva, uma das influências mais visíveis do Programa Bicicleta Brasil tem sido o crescimento da quantidade de ciclovias espalhadas pelo país. Conforme levantamento do ministério, o Brasil dispunha, em 1999, de 350 quilômetros de ciclovias. Em 2002, a extensão das vias exclusivas para as bicicletas já havia saltado para 600 quilômetros. Em 2007, as ciclovias mais que dobraram, atingindo 1.505 quilômetros.
O programa não conta com mecanismos diretos de financiamento para as obras de ciclovias. Mas se vale de outros programas coordenados pela Secretaria de Mobilidade Urbana (SeMOB) do ministério: Programa Pró-Transporte, Programa de Infraestrutura para Mobilidade Urbana (ProMOB) e Programa Mobilidade Urbana.
Segundo dados do Ministério das Cidades, entre 2005 a 2008 foi repassado um montante de R$ 275,2 milhões no âmbito do Programa Mobilidade Urbana. Na ação de Apoio a Projetos de Circulação Não Motorizada foram repassados R$ 12,2 milhões e, na ação de Ciclovias Integradas a Rede de Transporte Público, outros R$ 4,4 milhões. Nas duas ações, foram contemplados 57 projetos – incluindo, aí, projetos destinados à circulação de pedestres e de portadores de deficiências físicas.
Curitiba é a pioneira na introdução de ciclovias, com os primeiros trechos dos atuais 100 quilômetros de vias exclusivas para bicicletas tendo sido implantados ainda nos anos 70. A partir da elaboração, em 2009, do Plano de Mobilidade, a expectativa é que sejam implementados no curto e médio prazos outros 300 quilômetros de ciclovias na capital do Paraná.
“O plano de mobilidade definiu as prioridades no transporte em Curitiba: em primeiro lugar vem o pedestre; depois, a bicicleta; em terceiro, o transporte público e somente então o transporte individual”, diz o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), Cléver de Almeida. Segundo ele, a bicicleta tem participação de 5% entre os modais de transporte na capital paranaense, enquanto que os transportes públicos respondem por 45%. “A ideia é dinamizar o uso da bicicleta para o transporte diário, e não somente para o lazer, como vinha acontecendo até há pouco tempo”, afirma Almeida.
A expectativa é de que esse processo tenha início com a revitalização dos 100 quilômetros de ciclovias. “Já temos cerca de R$ 4 milhões previstos para a recuperação asfáltica e para a sinalização das ciclovias”, diz ele. Almeida acrescenta que ainda não há um cálculo dos volumes de investimentos a serem aplicados na construção de novas ciclovias. “Faremos os projetos aos poucos”, diz ele.